A grande mentira sobre a eficiência das escolas militarizadas.
Já no ano passado, postei um artigo sobre a falácia da qualidade do ensino militarizado, como o assunto se tornou mais importante fiz uma releitura sobre o mesmo tema que posto, aqui:
Muitas pessoas fascinadas pela ordem e disciplina que existem nas escolas militarizadas, fazem uma ligação direta e espúria entre as características de lei e ordem a uma maior eficiência no rendimento escolar. Esta visão, como procurarei demonstrar neste texto, é completamente equivocada produzida por uma falsa ligação entre a ordem e disciplina e rendimento escolar medido por exames de vestibulares ou outros instrumentos de aferição de desempenho para alunos de segundo grau.
Há um primarismo na análise dos pais de adolescentes que vendo bons desempenhos a alunos egressos de escolas militarizadas, numa pobreza de análise fazem uma relação causa efeito entre a rigidez aparente em escolas militarizadas a um melhor desempenho escolar.
O erro na interpretação primária desta relação causa/efeito (disciplina/eficiência), que nunca foram provadas por estudos científicos sobre o assunto, é resultado do que se chama em análise de dados de um erro de “separação das variáveis”.
A percepção de pais de crianças e adolescentes que escolas militarizadas produzem melhor desempenho em testes do que escolas públicas não militarizadas, é produto mais do aparente do que está por trás do verdadeiro segredo de polichinelo que ninguém se dá conta, ou se dão conta e escondem: O mecanismo institucionalizado de exclusão no ingresso das escolas militarizadas.
Os pais associam de forma indevida a ordem militar imposta pelas escolas militarizadas, a um ordenamento mental um consequente aumento na capacidade de adquirir conhecimento. Ou seja, uma consequência da ordem disciplinar externa a um melhor ordenamento mental dos alunos.
O mais incrível de tudo é que tanto os apoiadores das escolas militarizadas como os seus detratores, caem exatamente no mesmo erro, atribuir a maior eficiência a disciplina (apoiadores) ou atribuir a escolas militarizadas uma maior abundância de recursos (detratores). Entretanto, os dois grupos partem de um erro básico que invalidam qualquer raciocínio, o ensino militarizado não é mais eficiente ele é somente é excludente a alunos que serão triados por condições socioambientais ou mesmo a não aceitação dos métodos de ensino utilizados.
Saindo das generalizações, vamos direto a fonte da aparente melhor eficiência das escolas militarizadas, a forma que se dá o acesso aos bancos escolares.
Enquanto que no ensino público em geral, o acesso é universal independendo das condições socioambientais dos alunos que neste ingressam, para aceder as escolas militarizadas é necessário um exame de admissão que tem suas normas definidas pelas direções das escolas. Ou seja, as direções das escolas militarizadas impõem métodos de exclusão ao sabor de suas práticas algumas vezes seculares.
Como geralmente a demanda por ingresso é muito maior do que o número de vagas, o lógico é estabelecer uma limitação de ingresso ao número de vagas, coisa que poderia ser feita, por exemplo, por sorteio! Entretanto as escolas militarizadas evitam este critério democrático e que respeitaria os ditames constitucionais, tratando o ingresso a uma escola como um verdadeiro concurso público onde teoricamente a meritocracia seria a métrica.
Esta exigência de um falso concurso público para o ingresso no aprendizado, é uma forma de facilitar o trabalho dos membros discentes da instituição e dar uma aura de eficiência na instituição, ou seja, os dirigentes destas escolas sabem precisamente que seus métodos são excludentes e contrariam o direito constitucional a igualdade de oportunidades de cada pequeno cidadão brasileiro. Este conhecimento da exclusão dos alunos e o resultado que isto acarreta, pode ser demonstrado pela luta que ocorreu durante um dos governos do PT no estado do Rio Grande do Sul e uma escola militarizada paga com recursos públicos estaduais, o Colégio Tiradentes.
Durante uma época em que na Secretaria de Educação do estado do RS, havia uma noção da falta de espírito democrático e republicano no método de ingresso via prova de seleção do colégio Tiradentes, colégio militarizado que era e que ainda é administrado pela polícia militar gaúcha, a Brigada Militar do Rio Grande do Sul. A secretaria de educação tentou tornar o ingresso dos alunos neste colégio baseado num processo universalizante, eliminando as provas de admissão para esta escola. Houve uma imensa resistência não só do corpo discente, como também dos pais dos alunos que já estudavam neste colégio, resultando uma luta de braço no qual o colégio Tiradentes venceu e continuou a utilizar um PROCESSO SELETIVO via prova de admissão. Ou seja, venceu o conceito que dinheiro público seriam utilizados para o público pré-selecionado e não para um ingresso geral.
Os educadores em geral, como negam por princípio a disparidade da capacidade de com um exame de admissão se possa selecionar a vida o desempenho profissional de quem é testado e tem êxito no teste. Mais por ideologia do que por ciência deixam escapar o principal, a triagem socioambiental que por vias indiretas é feita por estes exames de admissão.
Em qualquer lugar do Brasil, que existam escolas militarizadas, há cursos de particulares para preparação destes exames, coisa que muitos sabem, mas não se dão conta da perversidade que induz os exames de admissão e que são propagandeadas, sem o mínimo pudor, por estes cursos privados de preparação ao ingresso das escolas militarizadas.
A origem e a existência destes cursos de preparação a escolas militarizadas, é um mero retrato da forma que são feitos os exames de admissão, eles são feitos com parâmetros especiais dados não só pelos programas exigidos para os postulantes ao ingresso, mas como também a forma como são feitas as provas de admissão. Geralmente os programas esgotam todas as possibilidades de exigência que são dados pelos parâmetros curriculares do governo federal, e que só uma pequeníssima minoria de alunos teve todos os conteúdos. Com isto questões bem elaboradas em termos de armadilhas são feitas para testar os alunos, e quem teve alguma falha no ensino do anterior terá dificuldade em resolvê-las. Logo para preparar os alunos para não caírem nestas armadilhas, os cursos de preparação os sujeitam a uma dupla jornada de estudo, ou seja, o ensino normal que estão seguindo, mais horas suplementares em turno inverso ao que estudam ou mesmo a noite.
Qualquer um pode imaginar, que sujeitar um aluno do fim das séries iniciais do primeiro grau, ou mesmo de série mais avançada que realiza as provas mesmo tendo que retroceder um ano se tiverem sucesso, é necessário um suporte familiar que não é usual para a imensa maioria da população brasileira, pois além dos custos extremamente exorbitantes dos cursos preparatórios, a necessidade de transporte e acompanhamento é um custo econômico e psicológico a toda a família.
O aluno que provier de uma escola privada com elevado grau de exigência (e custos também elevados), poderia sem esforço excessivo obter sucesso nestes exames de admissão, mas já cursar a priori uma escola de alto custo é uma forma de triagem socioeconômica do aluno.
Concluindo, para que um jovem que concluiu os anos iniciais do ensino fundamental, ou que concluiu o ensino fundamental, para que ingressem em escolas militares ou militarizadas, nas séries finais do ensino fundamental ou o segundo grau, terão que fazer um exame de admissão.
O exame de admissão testam na realidade os seguintes itens:
1) Nível socioeconômico dos alunos.
2) Grau de escolaridade dos pais (que é um dos fatores importantes para um bom desempenho escolar).
3) Nível de importância dada pelos pais e pelo aluno ao ensino.
Subsidiariamente e excepcionalmente aos itens anteriores, os exames de admissão poderão testar o grau de inteligência e/ou adestramento dos alunos para atingir as exigências propostas nos exames de admissão, mas isto é algo secundário.
RESUMINDO: O problema das escolas militarizadas não são os uniformes, as possíveis tentativas de manipulação ideológica dos quadros diretores das escolas, pois isto os jovens tem seus mecanismos de defesa. O problema é o aspecto anticonstitucional e antirrepublicano dos métodos de admissão, que excluem por razões socioeconômicas parte dos que poderiam se interessar em ingressar nesta escola.
O que deveríamos reclamar não é a existência deste tipo de educação, mas sim a sua forma de ingresso, por exemplo por sorteio, pois daí por diante a falácia da militarização como modo de ensino, em curto espaço de tempo derrotaria os defensores da militarização, pois o resultado seria o mesmo (ou até pior) do que uma escola pública comum bem administrada.
PS.: Algo que constatei nos 38 anos de professor de turmas de Engenharia da UFRGS, foi que alunos provenientes das tradicionais escolas militares e escolar militarizadas, não apresentam em média nenhum desempenho acima dos alunos provenientes das mais diversas escolas, poderia até dizer que uma boa parte dos mesmos apresentam desempenho medíocre em termos de criatividade e inovação.
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