segunda-feira, 14 de maio de 2012

Um Blog não é um artigo científico!

Hoje em dia na Internet há centenas de Blogs que falam sobre assuntos científicos, a maior parte desses replica informações saídas na imprensa, pinçando as notícias que são mais de acordo com a linha editorial do Blog (os Blogs têm, na maior parte, linhas editoriais mais claras que até mesmo as revistas e jornais comuns). Este processo muitas vezes é proveitoso, principalmente quando a fonte secundária (artigos de jornais e revistas) são escritas por pessoas que conhecem mais ou menos o assunto (jornalistas especialistas em ciências, pouco existentes em nossas redações), entretanto há alguns desvios que induzem o leitor a erros graves.

O erro mais nefasto, é quando a linha editorial das fontes ou do Blog, propriamente dito, prioriza a prova de suas teses em relação ao que está escrito no artigo de origem, muitas vezes as informações são truncadas editadas e a fonte não é colocada. Nestes blogs aparecem coisas como:

- Cientistas dinamarqueses dizem que....

Sem citar o nome dos cientistas, sem a origem da informação, se foi uma revista, um livro, um congresso ou simplesmente uma entrevista em outro órgão de imprensa, esta afirmação pode ou não ter alguma validade, mas devemos simplesmente desconfiar do que está escrito!



......Press Released de laboratório ou até de um cientista que queira divulgar em primeira mão....

..........Má compreensão tanto pela origem como pelo fim .........

.........O blogueiro se metendo de pato a ganso...............

..........A falta de informação sobre a origem.......

..........a tentativa de escrever algo que se assemelhe a um artigo técnico..........


Porém acho que esta discussão deve ser começada, pois passar de algo que procura divulgar a ciência (vulgarização científica) para achar que isto é divulgação científica é uma nuance, mas é importante.

sábado, 12 de maio de 2012

Alemanha adota a técnica de bota e tira o bode da sala para resolver o problema energético II

A algum tempo atrás quando a Chanceler Alemã declarou que ia em X anos desligar todas as usinas nucleares alemãs e substituí-las por energias alternativas, postei aqui um artigo intitulado "Alemanha adota a técnica de bota e tira o bode da sala para resolver o problema energético.", só não pensei que o bode começaria incomodar os alemães tão cedo.

No Welt On Line, do dia 10 (vide aqui), já começou a reclamação quanto a carência de energia e a possibilidade de apagão no próximo inverno. A geração eólica e sua intermitência característica estão gerando danos no controle da rede alemã que até agora estão sendo muito bem gerenciados.

O próprio agente regulador da energia e outros setores, o Bundesnetzagentur, está pedindo para que se mantenha uma usina nuclear em reserva e adverte da dependência da geração nuclear de outros países.

O que está causando preocupações é o próximo inverno, pois a necessidade de energia aumenta para a calefação e as linhas de transmissão das alternativas estão atrasadas.

O que se vê realmente que o sistema de geração de energia na Alemanha está próximo ao stress e com algum incidente que levem a um apagão, pode ocorrer grandes perdas econômicas.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Novo tipo de divulgação de projetos públicos, reportagem exclusiva de um jornal.

Os portalegrenses receberam no dia de hoje mais uma novidade em termos de políticas públicas, a divulgação de um projeto que pretende "revolucionar" o transporte da cidade via uma reportagem de um jornal.
O prefeito José Fortunati (PDT-RS) anunciou a todos, via o jornal Zero Hora (vinculado ao grupo RBS, afilhado da Globo) que a partir de amanhã começam as obras de implantação do BRT (Bus Rapid Transit), para quem não sabe o que é um BRT, é uma versão 2.3 do antigo e popular Papa-Fila que foi introduzido em 1956 como uma solução definitiva do transporte urbano no Brasil.

O prefeito da cidade enviou aos jornalecos de plantão um "press release" de poucos parágrafos dizendo quanto os munícipes vão marchar em termos de grana, só a Zero Hora teve acesso maiores informações e mostrou em sua edição um mapa com o trajeto do BRT.

Há três anos foi muito discutido o uso destes BRTs e se começou a construir as estações de transtorno (desculpe errei, as estações de transbordo), entretanto o trajeto apresentado pela ZH não tem nada com o que foi discutido nos chamados "Portais da Cidade".

Além de informação nenhuma sobre o projeto (que acho que não existe) o prefeito nos deu duas surpresas, a primeira que deveremos por esta primeira etapa nos encalacrar em 58milhões de reais, e que poderemos escolher o nome do ônibus, como ligeirinho ou outras babaquices.

A população de Porto Alegre está sendo tratada como crianças que tem direito a escolher o nome do Hipopótamo no Zoológico (além de pagar o ingresso), e como é palhaçada mesmo sugiro um nome bem de acordo.
CACARECO 

sexta-feira, 2 de março de 2012

Mais uma vez com as Eólicas, agora falando da “eficiência alemã”.


Dentro do espírito de cachorro vira-lata, que o brasileiro cultua, falamos da grande capacidade do povo alemão em matéria de organização e previsão em longo prazo. Mas será que é assim mesmo?

A primeira ministra alemã, Angela Merkel, prometeu logo depois do desastre de Fukushima no Japão não construir novas usinas nucleares na Alemanha e na medida em que as mesmas forem chegando ao fim de seu prazo de validade ir desativando-as e substituindo por fontes alternativas de energia.

Após o rompante ecológico de Merkel começam a surgir fortes dúvidas no seu país para obter esta tarefa. Segundo o cronograma as usinas eólicas, os biodigestores e as fotovoltaicas deveriam substituir as atômicas. 

O plano previa para em 2035 estar gerando 35% da carga total acrescendo 15% do que é gerado atualmente, para produzir energia mais estável (sem tanta variação no regime de ventos) grande parte das eólicas deverão ser usinas “offshore” (alto mar), mas exatamente nestas que estão surgindo os problemas.


O primeiro problema que surgiu foi da incapacidade dos fornecedores em entregar a tempo os cabos para ligar os geradores eólicos ao continente estando, por exemplo, as plataformas de HelWin1 e HelWin2, que deveriam começar a funcionar em 2012 com o seu prazo de funcionamento com 12 ou 18 meses de atraso. Das 10.000 turbinas eólicas que deveriam ser construídas para 2030 apenas 27 estão prontas e os 25.000MW até agora estão sendo gerados 135MW.

Além dos problemas dos cabos a tecnologia para instalação das torres no Mar do Norte (sujeito a fortes tempestades no inverno) não está perfeitamente equacionada, dos doze meses do ano as empresas que estão instalando os geradores eólicos só estão conseguindo trabalhar dos meses de maio a setembro, ou seja, seis meses por ano.

A choradeira dos fornecedores é tanta que as promessas de financiamento dos parques eólicos estão diminuindo, dos 86 projetos apresentados apenas 24 foram aprovados e apenas 4 estão em operação (os em regiões mais favoráveis).

Com tudo isto a indústria alemã começa a fechar algumas fábricas tradicionais (Usina Krefeld de aço inoxidável da Thyssen-Krupp, que foi vendida para os concorrentes, e será fechada no final do próximo ano).

A energia solar também não vai muito bem das pernas, o sol está meio que falhando na Alemanha, em janeiro deste ano os 1,1 milhões de coletores solares praticamente geraram zero em energia, para complementar o que não existe, energia elétrica está sendo importada da França e da República Checa ou também estão religando antigos geradores a óleo diesel. Isto tudo ocorre apesar de até 2011 já se tenha investido nada mais nada menos do que 100 Bilhões de Euros. A energia solar consome na Alemanha (Lei de geração de renováveis – 20 anos de produção até 2007).

A geração de energia solar, no momento que começou a ser sugerida como umas das alternativas para a indústria começaram a aparecer os custos escondidos. O Rhine-Westphalia Institute for Economic Research (RWI) calculou a fatura que será apresentada aos consumidores somente para os subsídios das instalações conectadas em 2011, o valor é de 18 bilhões de Euros em 20 anos. O RWI calculou o impacto da energia solar nas famílias alemãs, resultando num sobrepreço de 200 Euros por ano (além do custo da eletricidade).

Em resumo, atualmente o preço da energia na Alemanha é de 16,7 Euros/KWh, só perdendo para a Dinamarca (campeã mundial em energias alternativas – 20,6 Euros/kWh) e para a Itália (17,5 Euros/KWh), se for retirado a produção nuclear aumenta até 2020 em 20% o preço, ultrapassando a Dinamarca e inviabilizando parte da indústria Alemã.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Alemanha adota a técnica de bota e tira o bode da sala para resolver o problema energético. CONTINUAÇÃO

Conforme escrevi em maio do ano passado a aventura da Alemanha se aventurar a substitur toda a energia nuclear por energia “limpa” parece começar a fazer água.

Passado o momento inicial de constrangimento da energia nuclear o pessoal começou a fazer as contas e parece que elas coisas não fecham. A Siemens calculou o investimento necessário para fazer frente a todo este sonho resultaram em nada mais nada menos 1,7 trilhões de Euros (aproximadamente 4,5 Bilhões de Reais), ou seja 2/3 do PIB alemão.

O interessante é que no momento começam a falar na utilização do gás que a conversão custaria em torno de 1,4 bilhões de Euros, exatamente como previ, colocaram o bode na sala e agora começam a mostrar as alternativas.

Estamos esperando o próximo passo, o início de projetos para a construção de usinas de geração de energia termoelétricas a gás.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Alemanha adota a técnica de bota e tira o bode da sala para resolver o problema energético.

Tem a famosa piada da família que estava descontente porque a casa era muito pequena e não cabia mais ninguém na sala, o sábio e velho pai chegou um dia na casa com um bode fedorento e o colocou na sala. Durante uma semana a gritaria foi geral, todos reclamavam, quando todos estavam prontos para uma verdadeira revolução, o pai levou o bode embora. Resultado, todos acharam fantástico e por muito tempo ninguém reclamou da falta de espaço!


A primeira ministra alemã acaba de noticiar a colocação do bode na sala, não é que o povo germânico irá criar caprinos com maior intensidade, mas vai fechar todas as usinas atômicas até 2022. O que acontece com isto? O percentual da produção de energia por usinas nucleares na Alemanha é de 23%, e as ditas fontes renováveis que são aproximadamente 16,5% deverão substituir a energia nuclear. Porém estes números escondem muita coisa.

Produção de energia na Alemanha  (Renewable Electricity Generation in Germany)



































Primeiro, desses 16,5%, 3% são provenientes de aproveitamentos hidroenergéticos, que desde 1993 não tem nenhum crescimento (vide tabela acima). Por outro lado as taxas da eólica e da biomassa parecem estar tendendo a estagnação, restando somente a mais cara de todas e fotovoltaica.

A grande incógnita está exatamente na energia fotovoltaica, se ela continuasse a tendência quase que exponencial de crescimento, mais ou menos em 2015 ela atingiria o equivalente da eólica. Entretanto os custos da energia fotovoltaica num horizonte de cinco a dez anos não tem nenhuma tendência de cair substancialmente. Os custos reais de energia fotovoltaica são dificílimos de serem achados, sabe-se o custo dos painéis, mas este é um dos custos, os outros são verdadeiros mistérios escondidos do grande público.

Outro fator importante que deve ser levado em conta é a quantidade de radiação solar que recebem os países do norte, podemos dizer que a relação entre a energia solar gerada próximo ao equador e na Alemanha é de 4 para 1, ou seja por mais eficiente que seja o seu aproveitamento, em termos comparativos a Alemanha sai com uma desvantagem que é difícil superar.

Mapa da variação da Irradiância no Mundo.


Em resumo vem à segunda parte, com a impossibilidade de gerar energia a um custo razoável levará a segunda opção, a geração com carvão ou gás natural, que somando essas reservas, dentro do consumo atual podem-se garantir no mínimo uns 50 a 80 anos, ou seja, tira-se o bode da sala.

domingo, 20 de março de 2011

Esconder desastres não é novidade?


Como queria mostrar os problemas que surgem nas obras hidráulicas em relação aos acidentes em usinas nucleares, procurei na Internet algumas figuras e fotos recentes de grandes desastres ocorridos em barragens, para meu espanto, vejo que há uma verdadeira cortina de fumaça que se faz sobre os grandes desastres em obras de engenharia.

Para ficar nos exemplos que conheço mais, vejamos alguns exemplos. A barragem de Benqiao na China. Esta barragem foi construída em 1951 logo depois da segunda guerra sem grandes dados hidrológicos que permitissem o dimensionamento correto do vertedor, tinha por objetivos gerar energia e defender os habitantes do vale do rio Ru de cheias periódicas que matavam milhares de pessoas.

Barragem de Benqiao depois de rompida.


Em 1975 após longas cheias o vertedor desta barragem foi insuficiente e rompeu, causando um número de mortes que beirou as 145.000 pessoas logicamente num país que tem 80.000 barragens e com a precariedade material e técnica da época era de se esperar algum problema, mas as autoridades esconderam o que puderam o desastre até mais ou menos 1995, quando se começou a ver a morbidade da ruptura da barragem.

O mais enigmático é o caso da barragem de Morvi ou Morbi na índia em 11 de agosto de 1979, onde a barragem no rio Machhu rompeu e há estimativas de mortos que variam de 1500 a 15000, ou seja, não se contou nada nem se estimou bem. Esta barragem também estava com seu vertedor com uma vazão para 5600m³/s e passou uma vazão em torno de 16300m³/s.

Ilustração de uma publicação da Índia sobre o rompimento da barragem (o desenho não foi feito por nenhum especialista!)



Acidentes como estes (com um número muitas vezes menores do óbitos) ocorrem todos os anos no Brasil e no mundo, principalmente pelo número de barragens para os mais diversos fins que existem no mundo inteiro, conforme o porte das barragens poderíamos dizer qualquer número. Grandes barragens, segundo o critério da Comissão Internacional de Grandes Barrragens como a altura superior a 15m podemos pensar em 50.000 barragens. Porém se formos um pouco mais elástico e considerarmos barragens menores com capacidade de gerar grandes problemas este valor pode ser quase multiplicado por 10,

Logo com este número estúpido de estruturas, o mais normal que se encontre alguns projetos mal feitos, alguns empreiteiros desonestos e muitos políticos apresados em inaugurar uma obra na sua gestão. Cada caso é um fator de risco na segurança dessas estruturas, logo esconder os desastres é não permitir que as próximas gerações de técnicos apreendam com estes.

Delay, Deny, Defend: Uma volta ao fim do século XIX.

Delay, Deny, Defend O justiçamento de Brian Thompson da United Health Care da maior provedora de planos de saúde privados dos Estados Unidos...