terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Riscos de Tsunami no Brasil.


Como já passou a data que místicos e charlatões vaticinavam para o fim do mundo, é possível se postar na Internet alguma coisa sobre riscos de desastres sem contribuir para a histeria. Se fala muito sobre a imunidade do nosso país aos riscos de Terremotos e Tsunamis, porém talvez não seja totalmente verdade esta nossa imunidade, e poderíamos perguntar seriamente.

O Brasil é imune a Tsunamis?

Cientificamente não se pode afirmar que não. Na realidade se formos falar em termos estatísticos poderíamos comparar o risco de um Tsunami no Brasil com a sorte de um apostador acertar na Quina! Ou seja, o risco é baixíssimo, entretanto como somos um povo que confiamos na sorte, e fazemos a nossa fezinha na Quina mesmo sabendo que a chance é baixa, não custa nada falar sobre estes riscos, até para que numa situação deste tipo de evento saibamos como nos comportar (assunto que poderá ser desenvolvido em outro post).

Primeiro quais seriam os focos geradores de Tsunami para as costas brasileiras?

A primeira situação, já descrita em vários blogs e artigos científicos, é o deslizamento de parte do Vulcão Cumbre Vieja, nas ilhas Canárias, hipótese que é real e não faz parte de filmes de desastres. Só para dar uma ideia da possibilidade que existe deste evento é possível localizar em revistas científicas e publicações em congresso nos anos 2011 e 2012, alguns trabalhos publicados sobre o assunto (aqui, AQUI e AQUI, nos dois últimos links é possível se acessar os trabalhos integrais).

As estimativas destes trabalhos são bem otimistas em relação a trabalhos anteriores, pois os autores supõe que estes tipos de deslizamento são gradativos e não um deslizamento rotacional como ocorre em meio subaéreo (bloco contínuo). A meu juízo isto é baseado numa hipótese falsa, esta hipótese é baseado na investigação dos depósitos sedimentares provocados por deslizamentos do mesmo tipo, e como nestas pesquisas foram achadas feições características de depósitos turbidíticos (aqui, e AQUI), os pesquisadores que as realizaram tomaram como hipótese do mecanismo de formação de correntes turbidíticas, fluxos contínuos de material para dentro do oceano (não pulsos únicos como um deslizamento rotacional).

A partir de simulações físicas levadas a cabo no NECOD (Núcleo de Estudos de Corrente de Densidade) se verifica que independente do mecanismo de gatilho do fluxo (pulso ou fluxo contínuo), as feições características de fluxos turbidíticos estão presentes, logo a observação pura e simples do depósito não explica a origem do mecanismo de inicialização do fluxo, pois com o aumento da distância a origem, do mesmo, há uma segregação entre camadas que podem ser originadas de múltiplos aportes de sedimentos ou de um aporte único. Ao nosso juízo uma simulação (AQUI) que partem do pressuposto de um deslizamento convencional é mais adaptado para a simulação de riscos, pois resultam em maiores ondas.

O deslizamento de parte do Vulcão Cumbre Vieja, geraria ondas que segundo as hipóteses adotadas, criariam ondas na costa brasileira que variariam entre 3m e 18m, ou seja, 3m segundo as simulações supondo um deslizamento em partes e 18m supondo um modelo análogo a um deslizamento rotacional.

Simulação matemática de um Tsunami gerado pelo deslizamento do Vulcão Cumbre Vieja.

A segunda situação, que não é muito ventilada, é a de Tsunamis gerados por terremotos na dorsal meso-atlântica (ou crista oceânica do Atlântico - dorsal oceânica é uma cadeia de montanhas submersas no oceano, que se originam do afastamento das placas tectônicas). Esta a cordilheira submarina formada no Atlântico Norte entre placas tectônicas Norte-americana e Euroasiática, e no Atlântico Sul entre as Placas Sul-americana e Africana. Como estas placas apresentam um limite divergente (as placas estão se afastando e não se aproximando) a atividade vulcânica é muito menor (isto não quer dizer que seja inexistente!), sendo concentrada estas atividades próximas as ilhas do Caribe e as ilhas Sandwich do Sul.
Fonte: http://www.maine.gov/doc/nrimc/mgs/explore/hazards/tsunami/jan05-5.htm

 Excetuando as duas regiões citadas (ilhas do Caribe e as ilhas Sandwich do Sul), tremores de terra são geralmente de baixa intensidade, mas mesmo assim eles existem, por exemplo, em 25/12/2012 ocorreu um tremor de terra de ligeira intensidade (magnitude 4,9 escala Richter) exatamente nas coordenadas 22.406°S e 12.650°W, ou seja aproximadamente na mesma latitude que a cidade de Vitória no Espírito Santo. Logo, nada se pode dizer que no futuro não tenhamos terremotos de maior intensidade.

Agora no caso das ilhas Sandwich do Sul são grupo de ilhas vulcânicas criadas pela subducção da Placa Sul-Americana sob a placa Sandwich do Sul. Apesar da placa Sandwich do Sul ser muito pequena, o encontro entre estas duas torna a região muito ativa em termos de terremotos, em 2 de janeiro de 2006, por exemplo, ocorreu um tremor de escala 7,4 (escala Richter), que já é considerado um tremor de grande escala. Como o epicentro deste tremor era um pouco profundo (10km) não causou maiores problemas, mas de novo vemos que há uma probabilidade de geração de tremores do mesmo porte com movimento significativo do leito do mar.

As figuras a seguir, mostram a Sismicidade histórica da região. A primeira mostrando os terremotos a partir de 1900 de magnitude maior do que 7 na escala Richter (grandes e importantes), e a segunda todos os terremotos da escala 3 ou maior no mesmo período.


Fonte: National Earthquake Hazards Program do USGS.
É importante destacar que somente há pouco tempo (2011) nesta região foram localizados uma dúzia de grandes vulcões submersos ativos e não ativos, vulcões com até 2000m de altura, (AQUIe AQUI). Deslizamentos desses vulcões podem causar um Tsunami de grande porte.



Antes de terminar vamos a mais duas observações, em 1542, no início da colonização do Brasil, a primeira cidade construída pelos Portugueses no Brasil, a cidade de São Vicente, foi demolida por ondas de mais de 8 metros de altura, logo um fato histórico que permite a conclusão que não somos imunes a este tipo de desastre. Também para acrescentar mais uma causa a formação de Tsunamis podemos supor que o mecanismo de deslizamento da borda da plataforma possa gerar tsunamis, mas aí já é outra história.

9 comentários:

  1. Respostas
    1. A possibilidade é remota, porém existe e como observado acima, já ocorreu em 1542.

      Excluir
  2. Com a verticalização, dos polos da Terra, ( A Terra em relação so Sol tem inclinação de 23 graus), os mares poderiam invadir todo o Planeta ! (Cidades costeiras sumiriam).

    ResponderExcluir
  3. Preocupa! Vi há pouco, num site de monitoramento: 17/06/2015 12:51:33 Terremoto Fortíssimo (7 graus na escala Richter) a 10 km de profundidade - Southern Mid-Atlantic Ridge; Isso, no meio do oceano Atlantico...


    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Márcio, segundo o USGS este foi o maior terremoto que se tem conhecimento, como ele está distante da costa em torno de 3000km não provocou tsunami, porém o como foi o maior terremoto que se tem registro nesta região, sempre causa alguma preocupação.

      Excluir
  4. Bom dia!!! Está havendo abalos sísmicos desde o dia 19/08 na região da ilha Gerógia do Sul. Deve me preocupar, pois teve abalos 7.4 e 6.4? Hoje dia 23/08/2016 estão acontecendo abalos menores 5.0

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Procurei referências no USGS, foi realmente um terremoto de forte intensidade, porém não houve nenhuma alerta a tsunamis. Não sei se isto é devido ao tipo de terremoto ou porque não há nenhum órgão de alerta a tsunamis no Atlântico Sul!
      De qualquer forma uma coisa é certa, com a ausência de algum tipo de alerta só saberemos quando o Tsunami chegar!

      Excluir
    2. Devemos ficar em alerta, pois 7.4 não é um mero tremorzinho de terra e a profundidade não foi muito grande!

      Excluir
  5. Painel global relatou no último dia 26/11/2016 um terremoto de 5.0 Graus na Dorsal do Médio Atlântico ali pela direção do Ceará. http://www.painelglobal.com.br/terremoto.php?mapa=26-1102-39

    ResponderExcluir