sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Ganhadores: A greve negra de 1857 na Bahia. Ao Brasil da Uberização de 2019.



O historiador João José Reis há pouco tempo um livro, que ainda não li, mas que já gostei, sobre o título de “Ganhadores: A greve negra de 1857 na Bahia.” Onde ele relata a primeira greve do Brasil que se tem conhecimento até os dias de hoje. O próprio autor chama atenção que diferentemente de outros pequenos movimentos grevistas, que ocorreram anteriormente, o movimento dos chamados “Ganhadores”, que eram pessoas que trabalhavam sem a imposição de um feitor, que existiam nas fazendas, pagavam por semana um dado valor ao seu proprietário, podendo ficar com o excedente do seu trabalho e na maior das vezes se mantinham (alimentos e roupas) por conta própria.

É interessante tanto a caracterização do tipo de trabalho, um passo intermediário entre o escravo que não recebia nada por seu trabalho, para um escravo que retirada uma mais valia incrivelmente alta, ele recebia uma parte como um proletário normal. Estes escravos Ganhadores, exerciam diversas atividades, desde o simples transporte de cargas, até atividade de profissionais, como pedreiros, marceneiros e até mecânicos, sendo que em Salvador a maior parte era de carregadores de pessoas em cadeiras, subindo e descendo as ladeiras da cidade (o preço era mais ou menos estipulado pelo trajeto).

Porém o mais interessante de tudo, foi o motivo e a forma que estes escravos escolheram para protestar, não fugindo para quilombos nem em revoltas organizadas como a mais conhecida Revolta dos Malês, ocorrida quase meio século antes da greve.

Também é interessante fazer uma relação entre estes escravos de ganho, os Ganhadores, e os atuais entregadores de refeições de bicicleta que embora estes últimos não sejam de propriedade de ninguém, a forma de exploração se aproxima muito, ou seja, ganhos extremamente baixos e um trabalho exaustivo de subir e descer ladeiras com bicicletas com cargas pesadas nas costas. Também os Ganhadores, muito deles possuíam suas próprias ferramentas, não moravam com seus proprietários e pagavam grande parte do valor de seu trabalho para os proprietários.

Podemos dizer que 167 anos depois da greve dos Ganhadores, as condições de trabalho se aproximam rapidamente, com as políticas neoliberais, mostrando que os nossos Ganhadores do século XIX, os primeiros brasileiros que executaram uma greve bem sucedida, historicamente as milhares de movimentos operários que a sucederam, resultaram em ganhos que se mostram efêmeros, pois enquanto houver escravos ou proletários e proprietários dos meios de produção, no caso dos 

Ganhadores os próprios corpos dos escravos, todo e qualquer movimento para garantir melhores condições de trabalho poderão retroceder conforme as necessidades dos proprietários.

A comparação entre os escravos de ganho e os atuais trabalhadores uberizados é inclusive achada procedente pelo autor desta excelente obra que mostra a história das classes dominadas e não histórias de reis e rainhas e grandes generais ou proprietários.

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