segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Cesare Lombroso, o homem que inventou o feio.


Durante milhares de anos os filósofos se preocuparam com o conceito de beleza, os filósofos gregos perderam longo tempo na sua definição, Platão, Aristóteles e outros idealizaram o seus conceitos de belo, mas nunca teorizaram centralmente sobre o feio.
Afrodite, a deusa da beleza.
Como os filósofos nunca conseguiram um consenso sobre o belo, olhando o feio como a antítese do outro, se o belo não foi perfeitamente definido, não se conclui nada sobre o feio. Aplicando uma lógica formal, o não belo, necessariamente não é o feio, pois se envolvermos conceitos de alma e de outros aspectos subjetivos, o limite entre os dois não fica definido.

Vestimenta da Idade Média
Não sou nada conhecedor de filosofia, mas vejo que após a busca da beleza pelos gregos cria-se na sociedade medieval um longo período em que a busca do limite, da ordem e da simetria, é passado para um segundo plano, adotando-se mais um conceito de beleza da alma intangível e não quantificável, tornando a beleza física, até certo ponto, algo desprezível.

Associava-se a beleza de Eva a tentação, associava-se a beleza a luxúria e ao pecado. Bem diferente dos Gregos e Romanos, cobria-se o corpo para que a imagem dele não fizesse o homem fugir do ideal platônico. O teocentrismo não permitia que os mesmos ideais de limite, ordem e simetria fizessem parte do corpo humano, nos templos, nas obras arquitetônicas se abandonavam as proporções clássicas para impor uma arquitetura que elevaria o homem aos céus.

São quase mil anos em que o corpo é eliminado da busca do belo, salvando-se por curto espaço de tempo os ideais Greco-romanos no renascimento, onde os padrões de beleza do corpo humano são discretamente recuperados nas artes, mas sempre guardando o pudor de expor o corpo pecaminoso e manchado pelo pecado original.
As Graças de Rafael Sanzio.
Pouco tempo durou esta busca aos padrões estéticos da antiguidade, havia à igreja de um lado e os cultos puritanos do outro, tendo um grande ponto em comum, a manutenção do decoro.

Torturas da inquisição, provavelmente contra uma bruxa! 
 Com a introdução da sociedade laica após a Revolução Francesa, começa uma recuperação do belo, não é a toa que a figura da Marianne tem os seios desnudos, seios volumosos, talvez mais por uma longa e tediosa espera, se traça um ideal de corpo humano volumoso e carnudo para que ele alimente bem os filhos da revolução.
Marianne - O Símbolo da Revolução Francesa
 Segue a diante o processo republicano e revolucionário, porém sempre tendo como sombra, as Igrejas cobrando pudor e recato. Isto vai até o positivismo, que suporta o estado laico, mas junto com ele o positivismo italiano, o mais tardio na Europa, trás um novo conceito que talvez nunca tenha ficado tão claro na história, a invenção do Feio.

Cesare Lombroso, um médico italiano de ascendência judaica, que na realidade se chamava Marco Ezechia Lombroso, este homem que talvez tenha trocado seu nome para tirar o nome do profeta de sua vida, seguiu as teorias outro médico alemão Franz Joseph Gall, que numa pseudociência dizia ser capaz de determinar qualidades morais e intelectuais somente pela forma da cabeça.

Gall supondo que o cérebro fosse dividido em regiões estanques onde a cada uma delas atribuía uma característica de personalidade. Assimetrias e bossas na formação da caixa craniana, definiam o caráter e se o indivíduo seria ou não criminoso ou um bom homem.

Coleção de Cérebros 
De certa forma a frenologia, pseudociência inventada por Gall foi uma predecessora de ciências modernas como a neuropsicologia e neurociência cognitiva, porém seu esquema era totalmente equivocado, conforme foi mostrado cientificamente mais tarde.

Cesare Lombroso, adotou e levou adiante as teorias da frenologia, ele como um homem de várias ciências medico, antropólogo, criminólogo e advogado extrapolou para outras regiões do corpo os conceitos da frenologia, fundando o que se conhece como a criminologia moderna. Lombroso supos que qualquer distorção de uma anatomia “normal” representava uma involução ou atavismo do homem. Mesmo antes da publicação da “Teoria da espécies” de Darwin, Lombroso via na não normalidade um desvio genético que levaria o homem a um desvio comportamental.

 

Suas teorias, hoje denominadas uma pseudociência influenciaram pensadores da época e posteriores. Sigmund Freud e Carl Jung seguiram em parte alguns de seus conceitos, e após a sua morte em 1909 ainda por muito tempo elas divergiram para diversos ramos, alguns úteis e outros totalmente reprováveis. Muitas teorias racistas foram baseadas neste determinismo fisiológico que com o tempo se mostraram completamente equivocados.


 

Porém um aspecto que ninguém ainda chamou a atenção foi à invenção do conceito de feio. Lombroso associava a deformidade a tendência ao crime ou a outra características nada elogiosas, excetuando algumas formas de loucura que Lombroso as considerou geniais, o que saía do padrão era doentio e mau.

Lombroso criou um museu que existe até os dias de hoje com o nome Museo di Antropologia Criminale “Cesare Lombroso” em que crânios, cérebros e mascaras mortuárias de criminosos eram e são conservados de diversas formas junto com centenas de outras peças que dizem respeito a crimes.

As máscaras mortuárias dão uma face ao crime, uma face não simétrica que indica que este homem com suas características atávicas não conseguiu atingir o ideal de beleza não criminosa. O seja, o não simétrico, o deformado, o longe do padrão normal, além de feio é criminoso, e como tal deve ser afastado e eliminado da sociedade, pois ele tem um determinismo genético. Conforme as teorias de Lombroso tanto o deformado como seus descendentes eram ou se tornariam ladrões, assassinos, estupradores e outras variantes. Para Lombroso um homem nascer feio era muito mais, era nascer criminoso.

Em última instância, Césare Lombroso inventou o feio.

 

2 comentários:

  1. Notável é a beleza das feições das máscaras mortuárias. Os descendentes de muitos como os australianos seriam potenciais criminosos, de acordo com a teoria.

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  2. Comentário pertinente, pois as teorias racistas eram baseadas exatamente nos conceitos de Lombroso.

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