segunda-feira, 30 de maio de 2011

Alemanha adota a técnica de bota e tira o bode da sala para resolver o problema energético.

Tem a famosa piada da família que estava descontente porque a casa era muito pequena e não cabia mais ninguém na sala, o sábio e velho pai chegou um dia na casa com um bode fedorento e o colocou na sala. Durante uma semana a gritaria foi geral, todos reclamavam, quando todos estavam prontos para uma verdadeira revolução, o pai levou o bode embora. Resultado, todos acharam fantástico e por muito tempo ninguém reclamou da falta de espaço!


A primeira ministra alemã acaba de noticiar a colocação do bode na sala, não é que o povo germânico irá criar caprinos com maior intensidade, mas vai fechar todas as usinas atômicas até 2022. O que acontece com isto? O percentual da produção de energia por usinas nucleares na Alemanha é de 23%, e as ditas fontes renováveis que são aproximadamente 16,5% deverão substituir a energia nuclear. Porém estes números escondem muita coisa.

Produção de energia na Alemanha  (Renewable Electricity Generation in Germany)



































Primeiro, desses 16,5%, 3% são provenientes de aproveitamentos hidroenergéticos, que desde 1993 não tem nenhum crescimento (vide tabela acima). Por outro lado as taxas da eólica e da biomassa parecem estar tendendo a estagnação, restando somente a mais cara de todas e fotovoltaica.

A grande incógnita está exatamente na energia fotovoltaica, se ela continuasse a tendência quase que exponencial de crescimento, mais ou menos em 2015 ela atingiria o equivalente da eólica. Entretanto os custos da energia fotovoltaica num horizonte de cinco a dez anos não tem nenhuma tendência de cair substancialmente. Os custos reais de energia fotovoltaica são dificílimos de serem achados, sabe-se o custo dos painéis, mas este é um dos custos, os outros são verdadeiros mistérios escondidos do grande público.

Outro fator importante que deve ser levado em conta é a quantidade de radiação solar que recebem os países do norte, podemos dizer que a relação entre a energia solar gerada próximo ao equador e na Alemanha é de 4 para 1, ou seja por mais eficiente que seja o seu aproveitamento, em termos comparativos a Alemanha sai com uma desvantagem que é difícil superar.

Mapa da variação da Irradiância no Mundo.


Em resumo vem à segunda parte, com a impossibilidade de gerar energia a um custo razoável levará a segunda opção, a geração com carvão ou gás natural, que somando essas reservas, dentro do consumo atual podem-se garantir no mínimo uns 50 a 80 anos, ou seja, tira-se o bode da sala.

domingo, 20 de março de 2011

Esconder desastres não é novidade?


Como queria mostrar os problemas que surgem nas obras hidráulicas em relação aos acidentes em usinas nucleares, procurei na Internet algumas figuras e fotos recentes de grandes desastres ocorridos em barragens, para meu espanto, vejo que há uma verdadeira cortina de fumaça que se faz sobre os grandes desastres em obras de engenharia.

Para ficar nos exemplos que conheço mais, vejamos alguns exemplos. A barragem de Benqiao na China. Esta barragem foi construída em 1951 logo depois da segunda guerra sem grandes dados hidrológicos que permitissem o dimensionamento correto do vertedor, tinha por objetivos gerar energia e defender os habitantes do vale do rio Ru de cheias periódicas que matavam milhares de pessoas.

Barragem de Benqiao depois de rompida.


Em 1975 após longas cheias o vertedor desta barragem foi insuficiente e rompeu, causando um número de mortes que beirou as 145.000 pessoas logicamente num país que tem 80.000 barragens e com a precariedade material e técnica da época era de se esperar algum problema, mas as autoridades esconderam o que puderam o desastre até mais ou menos 1995, quando se começou a ver a morbidade da ruptura da barragem.

O mais enigmático é o caso da barragem de Morvi ou Morbi na índia em 11 de agosto de 1979, onde a barragem no rio Machhu rompeu e há estimativas de mortos que variam de 1500 a 15000, ou seja, não se contou nada nem se estimou bem. Esta barragem também estava com seu vertedor com uma vazão para 5600m³/s e passou uma vazão em torno de 16300m³/s.

Ilustração de uma publicação da Índia sobre o rompimento da barragem (o desenho não foi feito por nenhum especialista!)



Acidentes como estes (com um número muitas vezes menores do óbitos) ocorrem todos os anos no Brasil e no mundo, principalmente pelo número de barragens para os mais diversos fins que existem no mundo inteiro, conforme o porte das barragens poderíamos dizer qualquer número. Grandes barragens, segundo o critério da Comissão Internacional de Grandes Barrragens como a altura superior a 15m podemos pensar em 50.000 barragens. Porém se formos um pouco mais elástico e considerarmos barragens menores com capacidade de gerar grandes problemas este valor pode ser quase multiplicado por 10,

Logo com este número estúpido de estruturas, o mais normal que se encontre alguns projetos mal feitos, alguns empreiteiros desonestos e muitos políticos apresados em inaugurar uma obra na sua gestão. Cada caso é um fator de risco na segurança dessas estruturas, logo esconder os desastres é não permitir que as próximas gerações de técnicos apreendam com estes.